Os casos raros e inclassificáveis da Clínica Psicanalítica

Sinopse da Aula Inaugural de Jorge Forbes ao Módulo IV do Curso para Formação em Psicanálise

Sorteio de grupos. Tutores e sombras. O último módulo do bimestre começou. A jornada do IPLA é a chegada. Jorge Forbes contextualizou o tema, formalizou momentos da clínica, estabeleceu caminhos para o estudo que se inicia. Foi dada a largada. Vejamos:

O tema: A Experiência do Real. Duas palavras fundamentais:Experiência Real. Irredutíveis ao saber iluminista. Como articulá-las?

Contextualização - os temas desse módulo derivam de uma série de três conversações: o concílio de Angers (1996) e A conversação de Arcachon(1997), que discutiram os inclassificáveis da clínica e A convenção de Antibes (1998), ocorrida na cidade de Cannes, que encerrou o ternário com discussões sobre O neodesencadeamento (formas de “desengate” que se diferenciam do desencadeamento clássico), A neoconversão (fenômenos do corpo não interpretáveis de maneira clássica) e A neotransferência (o manejo da transferência nas psicoses). As discussões dessa última convenção receberam o nome de A psicose ordinária.

Três referências fundamentais para iniciar o módulo. Bibliografia básica - seleção de textos por conta dos tutores.

Formalização - um passeio pelas interseções entre a 1ª e a 2ª Clínica de Lacan. Teoria dos discursos, laço social. O discurso é aquilo que faz laço social, diz Forbes. No mundo verificamos a presença de três deles, que causam três formas de vínculo: o Nome do Pai, o discurso da ciência e o discurso da universidade.

O Nome do Pai é o lugar onde não há dúvida. O discurso da ciência é marcado pela insatisfação, como o da histérica, e pela busca ilusória de completude. O discurso universitário, por sua vez, é aquele que só reconhece a si mesmo, que denigre tudo o que não está dentro dele.

O discurso universitário é o discurso da burocracia e foi associado ao texto Tendência à depreciação na esfera do amor, onde Freud discute o modo pelo qual o sujeito se faz completo pelo desprezo.

Esses três discursos operam numa topologia cartesiana. Diante deles, a psicanálise inventou um novo vínculo, chamado Novo Amor, que incorpora a incompletude da significação, ou, noutros termos, a castração.

Em seguida, Forbes nos ofereceu recursos para localizar as posições histéricas e obsessivas ao longo de uma análise. Ele situou um ponto na vida da pessoa em que tudo ia bem, até que chega um momento de ruptura, diante do qual o sujeito procura retomar o “paraíso perdido”. O percurso da análise leva o sujeito a abandonar essa iniciativa e a inventar o futuro.

Nesse processo, histeria e obsessão respondem de maneira diferente. A histérica diz: “tudo que sei não importa”, ou, noutros termos: “eu sei, mas...”. E o obsessivo, por sua vez: “sei tudo que importa”, ou, “eu sei, e só”.

No caso da histérica, uma estratégia analítica consiste em retirar o “mas” e fazer o “eu sei” colar nela - para isso, são importantes as sessões curtas. No caso do obsessivo, a estratégia é o inverso: substituímos o “só” pelo “mas” da histérica. Seguindo essa lógica, o lugar ora ocupado pelo “paraíso perdido” reaparece no analista, que oferece uma multiplicidade de caminhos.

Outra é a lógica do perverso, que representa o discurso do mestre.

Na passagem para a Segunda Clínica, temos uma mudança de paradigma. Ao contrário da Primeira, que é demonstrável, a Segunda émostrável: a ação é anterior ao saber. É o momento em que Lacan usa a palavra monstração, para indicar aquilo que não cabe dentro da língua, que é esquisito. Essa clínica não se define por conceitos, afirma Forbes. Não se transmite no interior do saber iluminista e exige uma nova epistemologia, capaz de torná-la mostrável. Daí a importância dos casos clínicos, porque nenhum conceito sobrevive.

Aqui surge o ponto de conexão com o tema do módulo desse bimestre: o tema dos inclassificáveis, da psicose ordinária, da quebra dos padrões, das direções do tratamento, do Real sem lei.

Alguns pontos foram definidos para o início de nosso estudo: 1 nova psicopatologia; 2 a diferença entre inclassificável e borderline; 3 psicose ordinária, neodesencadeamento e neoconversões; 4 o Real sem lei.

Por fim, o que fazer diante da quebra dos padrões de identidade? Esse tema está sendo pesquisado no Projeto Análise, sob a direção de Jorge Forbes. A partir da obra O princípio responsabilidade, de Hans Jonas, trata-se de encontrar a esfera dos valores, da essência que pode tocar cada um, para que, em análise, possa gerar a resposta que precisa