A Rádio Lacaniana entrevista participantes do Fórum: A Psicanálise versus A Sociedade de Controle.
10/06/2006 00h00
A Rádio lacaniana, entrevistou na
noite de 10 de junho, no MuBE, alguns participantes do Fórum: A Psicanálise
versus A Sociedade de Controle.
RL: O que você achou deste Fórum?
CAIO TÚLIO COSTA – jornalista
Nós ainda estamos no começo do Fórum e acho que o debate já esquentou bastante.
Senti a platéia muito animada, disposta a inquirir, a perguntar. O primeiro
segmento foi extremamente produtivo; acho que precisaríamos mais tempo para a
platéia participar mais ainda Aprendi muito hoje aqui, com os participantes do
segmento, principalmente com Dr. Zacaria Ramadam e Márcio Giovanetti.
LUIZ EDUARDO BORGERTH, advogado e filósofo, trabalhou 35 anos com televisão,
na TV Globo.
O tema da comunicação que Caio Túlio abordou é o tema que me dediquei em toda
parte adulta da minha vida.
O grande problema da televisão é: o que é a realidade e o que se vê na
televisão; até que ponto você vê a realidade e até que ponto a realidade existe
independentemente de cada um de nós. E eu disse há pouco que, a rigor, a
realidade não existe. O mundo real existe, mas é aquele que nós vemos.
Portanto, nada pode ser conhecido verdadeiramente, só nós mesmos. A única
ciência é saber, estar ciente de si mesmo. Então a única ciência verdadeira é a
ciência de si próprio. E a ciência que analisa a si próprio é a análise, porque
também o próprio indivíduo pode estar se enganando sobre si próprio, como pode
se enganar sobre a verdade. Por isso acho que nenhuma ciência pode acusar a
psicanálise de não ser ciência. E não é à toa que Sócrates, há 400 anos antes
de Cristo disse: _ Conhece-te a ti mesmo.
MÁRCIO GIOVANNETTI – psicanalista
Em
princípio, acho cada vez mais necessários Fóruns como este, onde não se fica
aprisionado dentro de uma área específica de conhecimento, há uma
transdisciplinaridade: há uma geneticista e há uma predominância de
psicanalistas – é um de nossos problemas, eventos de psicanálise quase só para
psicanalistas. Nós somos vistos muitas vezes, e com razão, como aqueles que se
fecharam numa torre de marfim, e espero que essa torre de marfim seja derrubada,
como foram as torres do World Trade Center, não num ato de violência, mas num
ato construtivo, isto é, que essa torre de marfim seja desconstruída e que
possamos dialogar; afinal somos os profissionais do diálogo – é para isso que a
psicanálise foi criada. Essa é a essência da psicanálise. Precisamos dialogar
com outros profissionais que têm outras versões da questão humana – que fica a
cada momento mais evidente que é complexa demais; que não há aquele
profissional, aquela perspectiva que dá conta da marca humana.
Uma coisa é a busca do conhecimento, do conhecimento vivido, do conhecimento
experenciado, outra coisa é a questão da verdade. Essa verdade, que norteia
muitos investigadores, é absolutamente enganosa porque ela nos situa dentro da
área da crença. Não é a toa que um livro como “O Código Da Vinci” ecoa em 60
milhões de pessoas no mundo e o filme está aí logo em seguida, porque lida
justamente com essa questão da crença humana. Para mim isto está diretamente
relacionado com a verdade. Quanto mais o homem crê numa verdade mais ele se
fundamentaliza. A questão é que a gente possa relativizar e apreender a
complexidade das verdades, das várias verdades ao longo do nosso percurso sobre
a terra.
MARCUS ANDRÉ VIEIRA – psicanalista
Para mim este Fórum foi um momento muito especial por poder apresentar alguma coisa da minha prática, da intimidade na praça pública. Eu gosto dessa idéia de praça pública. Acho que o que mais gostei do Fórum foi isso: encontrar colegas da EBP (Escola Brasileira de Psicanálise) e estar representando um pouco do trabalho que a gente desenvolve em vários lugares do país. Eu gostei muito.
GILDA PAOLIELLO – psiquiatra e psicanalista
Achei o Fórum importantíssimo. Esse papel da psicanálise – de esclarecimentos, de levantar debates, de causar incômodo – é fundamental. Então, nesse sentido, o Fórum preencheu tudo e muito mais. Foi muito bom.
MAYANA ZATZ – geneticista
Achei o
Fórum fantástico. Para mim tem sido uma experiência muito rica participar
dessas discussões com vocês, porque, como cientista, sou treinada a ser muito
objetiva ao falar, ao dar o recado. É muito interessante ouvir discussões mais
profundas sobre elucubrações mentais; tenho aprendido muito com isso.
Eu tenho um lado mais prático que vocês. Tenho a preocupação de estar estudando
e pensando o que fazer com aquela informação; mostrar que a gente gera muita
informação, muitas vezes inúteis, que nem sempre vão ajudar. Não é porque você
tem um teste disponível que isso tenha que ser oferecido à população. Esse pensamento
vai contra os interesses comerciais e eu tenho entrado em brigas enormes por
isso.
Acho que a gente vive realmente numa sociedade de controle, acho que é muito
difícil sair, mesmo que se queira, e temos que encontrar um equilíbrio. Não
temos que viver subjugados, mas sabemos também que não podemos viver
completamente livres.
Teresa Genesini