- Médicos deixarão de existir? Não, não
deixarão, ao contrário, retomarão os princípios éticos fundadores da medicina.
As máquinas, a tecnologia e a inteligência artificial preencherão melhor os
protocolos; já são e serão cada vez mais precisas em seus movimentos; mais
potentes em sua memória. Mas máquinas não pensam a si mesmas, não duvidam, não
têm questões éticas. O médico precisa se reinventar urgentemente e sua
perspectiva de ação em TERRADOIS é enorme. Engana-se quem, baseado nos
"cases" Uber e Airbnb, pensa que não haverá mais especialistas e que
todas opiniões, agora, se equivalem. A horizontalidade das relações humanas em
TERRADOIS, diferente da verticalização anterior, não quer dizer que todo mundo
agora seja igual, mas exatamente o contrário, quer dizer que todo mundo é
diferente e há que se saber administrar as diferenças, tarefa nada simples.
- Um remédio para cada um. Depois da
massificação dos tratamentos protocolares e dos procedimentos padronizados,
caminhamos a largos passos para a singularização de cada atendimento.
Singularização, não particularização. O que é "singular" é
incomparável, enquanto o "particular" é parte de um todo. Cada
pessoa, a partir dos estudos genéticos, terá o seu remédio. Estão os operadores
de saúde e seus gestores preparados para lidar com essa realidade inadiável? Ou
ainda insistem na verticalização e generalização dos processos, típicos de
TERRAUM?
- Hospitais e seus gestores. Princípio responsabilidade. As enormes questões atuais não se resolvem invertendo a hierarquia: se antes os médicos mandavam nos hospitais, hoje teriam que se disciplinar aos princípios administrativos. Ledo engano. Mudar de cadeira não é mudar de posição, é continuar na mesma. Os modelos empresariais de gestão chegam aos hospitais com atraso, quando as idealizadas empresas já se deram conta que terão que mudar de paradigma se quiserem sobreviver em TERRADOIS. Hospitais podem pular essa etapa e gestores e médicos devem se ressituar no Princípio Responsabilidade desse novo tempo. O princípio do "custo e benefício" é reles para tratar da revolução da saúde. O fundamento que deve articular todos os que trabalham com a saúde, independentemente da posição, é ético. Em um mundo em que do nascimento à morte nada mais é como era dantes, as novas questões éticas clamam por respostas e posicionamentos. Para ficar só em dois exemplos das extremidades da vida, vejamos quantas questões éticas estão em jogo na manipulação dos embriões - uso de células troncos embrionárias, congelamento de óvulos, doação de óvulos, de espermatozoides, de embriões, seleção de embriões, etc. - e no cardápio que virou a morte: eutanásia, distanásia, ortotanásia, suicídio assistido, etc.
Jorge Forbes é psicanalista.
Data de publicação: 21/06/2018