Estupro não é genético

Mayana Zatz

Jorge Forbes entrevista Mayana Zatz – 6 de maio 2016

Na edição 2481 da Revista Veja, desta semana, Jorge Forbes é perguntado sobre o fenômeno dos estupros nesse momento em discussão no Brasil, com ampla repercussão. Ele defende a ideia de que o estupro é um ato perverso, mas não exclusivo de perversos, e tece considerações sobre  por que, nesse momento, existiria um maior número de estupros. No mesmo tema,  o próprio Jorge Forbes fez uma mini-entrevista com a Professora Mayana Zatz, titular de Genética da Universidade de São Paulo,  indagando se há base biológica no estupro, como defendem curiosamente alguns autores. Esta entrevista pode ser lida e ouvida a seguir.

Clique no player abaixo para ouvir o áudio da entrevista. 

 

JF – A imprensa brasileira, como os brasileiros, está aturdida com esse estupro, que recebeu uma atenção especial, pelo fato de uma gravação ter sido exposta nas redes sociais. Muitos estão defendendo a ideia que o estupro é um comportamento natural dos homens, quase chegando a pensar que existe uma determinação genética nesse comportamento. O que você, que é titular de Genética da Universidade de São Paulo, pensa disso?

MZ – Eu sou absolutamente contra à ideia de que há um componente genético favorecendo o estupro. O que eu acredito, e todos nós, é que existe um componente genético que dirige nosso instinto de reprodução, mas nunca de estupro. A gente tem um instinto de passar nosso DNA para frente. Por isso a gente se preocupa tanto com os filhos, e muitas vezes não só com os filhos, com quem os filhos irão se casar, para termos certeza ou pelo menos acreditar que nosso DNA estará em boa companhia. Mas isso não tem nada a ver com estupro.

JF – E esse comportamento de passar o DNA para frente, de preservação da espécie, de reprodução, é diferente no homem e na mulher, do ponto de vista da genética?

MZ – Nada indica que seja diferente. Tanto o homem quanto a mulher têm a necessidade de passar o DNA para frente. Talvez a mulher tenha esse instinto mais cedo, antes do que o homem. A gente vê a menininha brincando de boneca, que já é o começo do instinto materno. Mas nada indica que seja diferente nos dois sexos.

JF – Uma última questão nesta minientrevista. Qual é sua opinião sobre o fato de ter mais estupros de mulheres cometidos por homens do que o inverso?

MZ – Acho que a primeira resposta é por causa da força física. A mulher não tem a força para agarrar um homem, se ela quisesse.

JF – Se tivesse agarraria?

MZ – Essa é uma boa questão. Acho que a mulher usa de outros subterfúgios para tentar conquistar o homem e não a força bruta.

JF – Obrigado.

Data de publicação: 09/06/2016