Cambalacho ou responsabilidade criativa?

Helainy Andrade

As olimpíadas para além de ser um espetáculo, também nos interpretam: ficamos bem quando emprestamos nossa pele para vestir o espetáculo e fazer bonito

As Olimpíadas chegaram ao final. E, contrariando as expectativas mais desconfiadas ou nitidamente pessimistas, deu tudo certo. Ninguém morreu nos ataques terroristas que não ocorreram. Os atletas brasileiros marcaram sua presença nos podiuns.  O espetáculo de abertura foi um belo show que deu o start dos 16 dias melhores que viriam pela frente. 

Agora, a festa acabou. As luzes se apagaram. Todos se despediram com pesar, com vontade que durasse um pouco mais. Terminou nosso oásis no deserto das áridas e estéreis discussões sobre os feitos, não feitos, mal-feitos de nossos "representantes" na polis. 

Mas uma pergunta: temos que voltar ao ponto em que estávamos? Não podemos avançar? E se  invertêssemos o ângulo: queremos ser representados pelo cambalacho ou pela responsabilidade criativa?

As Olimpíadas, para além de ser um espetáculo, também nos interpretam: ficamos bem quando emprestamos nossa pele para vestir o espetáculo e fazer bonito. Ficamos bem quando expandimos os limites de nosso corpo. 

O atleta chama para si a responsabilidade, sabe que é com ele, não deixa paro outro, não deixa para amanhã. Por que não podemos usar esse seu princípio e inclui-lo como um orientador ético? Quase que somos melhores fazendo do que falando. E isso é ótimo! Temos talento. No blablablá nos perdemos, ficamos na promessa que pode ser torcida, retorcida, distorcida, desfeita, refeita. Ah, na arte e no esporte não tem disso. Um ouro conquistado não pode ser desconquistado, ou mudado de cor porque mudou o contexto, a conjuntura. Ele sai do Brasil ouro e chega num país do outro lado do mundo, ouro. É inacreditável! 

Nossa reputação de país do jeitinho pode ser positivada para aquele que é capaz de bancar uma solução para um problema. Podemos elevar o nível. 

Lacan, no final de seu ensino, apontou que a psicanálise deveria levar uma pessoa a saber-fazer com seu sintoma. Isso nos diz: não precisamos esperar o Brasil ficar melhor para viver diferente. Podemos começar a fazer diferente, cada um a partir de si, para que o Brasil fique melhor. 

Helainy Andrade é psicanalista em Varginha-MG e monitora do curso online do Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA-SP.

Data de publicação: 25/08/2016

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