A sedução matemática

Alain Mouzat

O que faz com que o Brasil se apresenta hoje como uma potência das mais representativas na Matemática, no mundo?

A revista Piauí de julho dedica um artigo a Anne, 13 anos, medalhista das Olimpíadas de Matemática 2015, como outros 501 alunos de todo o pais que viajaram ao Rio para receber suas medalhas. Vinda de uma pequena cidade do Nordeste de pouco mais de 10.000 habitantes, a menina fez sua primeira viagem de avião, não trouxe o maiô porque falaram para ela que fazia frio no Rio... tirou fotos, cumprimentou Artur Ávila, o destaque da festa, ganhador da medalha Fields no dia 13 de agosto de 2014, há exatamente um ano. A medalha Fields é considerada como o Nobel de Matemática.

O que faz com que o Brasil se apresenta hoje como uma potência das mais representativas na Matemática, no mundo? Dentro do marasmo da educação brasileira, algo surpreendente. Ou não. Basta conhecer a historia do IMPA, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada, para entender que a excelência nasce com o entusiasmo e a entrega das pessoas, não na hierarquia fundamentada na idade, na confiança dada aos jovens, na possibilidade de quebrar os caminhos curriculares (lembrando que Artur Ávila começou seus estudos em nível de mestrado no IMPA enquanto ele ainda cursava o segundo grau, e defendeu seu doutorado poucos dias depois da sua graduação).

Em suma, o sucesso da matemática brasileira se deve por certo aos gênios individuais de um e outro, mas particularmente à vigilância de zelar à propagação de um entusiasmo que se parece mais com o contágio da arte ou da poesia.

Assim Anne, desde sua indicação ao prêmio recebe, como outros 6500 estudantes, uma bolsa de 100 reais e pode acompanhar as aulas dos professores do IMPA num tablet fornecido pela instituição...

Estaria a Matemática – quem diria? – mostrando outros caminhos para o ensino? 

Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, e psicanalista membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana

Data de publicação: 27/08/2015